Maimuna Majumder sentiu-se tão bem preparada quanto uma pessoa poderia estar quando a pandemia de Covid-19 começou no início de 2020. Como epidemiologista de doenças infecciosas na Faculdade de Medicina de Harvard e no Hospital Infantil de Boston, ela vinha estudando pandemias emergentes há uma década. Mas essa era pessoal.
Ela perdeu colegas para a Covid-19 e para o suicídio durante a pandemia. Seu tio passou um tempo em uma unidade de terapia intensiva em Bangladesh, na Índia. Durante longos dias de trabalho, ela se esquecia de comer por 14 horas seguidas. Ao mesmo tempo, Majumder, uma mulher muçulmana que fala publicamente sobre a pandemia, enfrentou ataques e ameaças nas redes sociais.
Para evitar desmoronar com o estresse, ela se concentrou no trabalho e buscou grupos de apoio, além de se dedicar pelo menos 15 minutos por dia ao cuidado de si mesma, com atividades criativas, como pintura, e estabelecer laços profundos com os colegas de trabalho. Todas essas etapas, disse ela, ajudaram a preservar seu bem-estar.
— Todos nós passamos por uma experiência realmente traumática devido a essa pandemia, mas passar por isso juntos foi uma experiência realmente unificadora — disse ela. — Isso é algo pelo qual sou muito grata.
A saúde mental se tornou uma pandemia dentro da própria pandemia de Covid-19, com taxas crescentes de ansiedade, depressão e esgotamento. Mas alguns estudos mostram que uma parte substancial dos adultos encontrou maneiras de contornar o problema. Essa tendência ilustra o potencial humano para o que os psicólogos chamam de resiliência, a capacidade de se recuperar de experiências negativas e suportar adversidades.
Como acontece em qualquer crise, algumas pessoas se tornaram ainda mais fortes do que eram antes da pandemia — com mudanças positivas em como elas veem a si mesmas, seus sentimentos ou seus relacionamentos. Os psicólogos chamam essa reação de crescimento pós-traumático.
A boa notícia é que tanto a resiliência quanto a capacidade de superar as adversidades podem ser cultivadas, seja nos melhores ou piores momentos. Estudos sugerem que uma série de estratégias — como buscar apoio de amigos, fomentar uma perspectiva positiva e interromper o estresse — podem moldá-lo para permanecer forte, ou até mesmo ficar mais forte, em momentos difíceis.
— Resiliência é um conjunto de habilidades que a pessoa desenvolve — disse Steven Southwick, psiquiatra com especialização em estresse pós-traumático na Escola de Medicina de Yale. — E virtualmente qualquer pessoa pode aprender a ser mais resiliente.
Aqui vão quatro dicas para ajudar você a cultivar a resiliência em 2022.
Construa uma rede de apoio forte
Uma semana depois que o Canadá implementou as restrições contra Covid-19 em março do ano passado, Simon Coulombe, um pesquisador de psicologia e relações industriais da Universidade Laval, em Quebec, e Tyler Pacheco, um estudante de PhD em psicologia da Universidade Wilfrid Laurier, em Waterloo, começaram a pesquisar mais de 1.000 canadenses adultos sobre seu bem-estar.
Eles repetiram o experimento algumas semanas e dois meses depois do início da pandemia. Os participantes relataram muito estresse por causa da insegurança no trabalho ou do medo do vírus e, para muitos, esse estresse estava relacionado à sensação de que a vida havia perdido parte de seu significado. Mas o apoio e a interação sociais acabaram protegendo as pessoas de parte desse estresse, uma tendência que persistiu por meses, disse Coulombe.
Algumas pessoas provavelmente nascem mais resilientes do que outras, acrescentou, mas há muito espaço de manobra para se fortalecer, e construir uma rede de apoio é um dos maiores fatores de proteção, de acordo com décadas de estudos.
Encontre momentos de otimismo
Após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, segundo pesquisas, até 70% das pessoas disseram que se sentiram deprimidas. Mas 60% também relataram que seus relacionamentos pareciam mais fortes, junto com sentimentos de afeto pelos entes queridos. Com base em um estudo com várias dezenas de estudantes universitários da época, os pesquisadores concluíram que a gratidão, o amor e outras emoções positivas nas semanas após o evento, mesmo em meio a problemas para dormir e se concentrar, forneceram uma proteção crucial contra a depressão.
Para cultivar a positividade, os pesquisadores recomendaram buscar conforto nas crenças espirituais ou religiosas, fazer atividades agradáveis e conversar sobre os melhores momentos — na terapia, se necessário. Humor, relaxamento e pensamento otimista podem ajudar a evocar positividade e facilitar o enfrentamento em meio a tempos difíceis, de acordo com estudos que datam da década de 1990.
Mesmo que o otimismo não seja algo natural para você, é uma habilidade que pode ser cultivada, disse George Everly Jr., psicólogo e especialista em saúde pública da Escola de Medicina da Universidade Johns Hopkins, que fez pesquisas com pacientes em diálise e veteranos de guerra.
— Há pesquisas da neurociência indicando que, mesmo que você tenha nascido pessimista, pode se tornar um otimista — disse ele. — Devemos partir daí e dizer: quais são as lições aprendidas?
Interrompa o ciclo de estresse
Reduzir o estresse que você sente em resposta a eventos traumáticos pode ser psicologicamente benéfico, disse Southwick, cuja pesquisa inclui o trabalho com instrutores das Forças Especiais e pessoas que sobreviveram a desastres naturais.
No cérebro, afirma, o estresse crônico pode aumentar o volume de algumas regiões em detrimento de outras, reduzindo potencialmente nossa capacidade de regular as emoções, entre outros efeitos. Mas técnicas como atenção plena e exercícios respiratórios (respirações lentas e profundas ou exalações prolongadas) ativam as regiões do cérebro responsáveis pela atenção, emoções e autoconsciência. Essas mudanças, por sua vez, podem interromper a progressão do medo para a ansiedade e ajudar a facilitar a cura.
Vale a pena tomar medidas agora para proteger sua saúde mental para o futuro, dizem os especialistas. Em uma revisão de 2019, pesquisadores relataram que programas destinados a ajudar pacientes com câncer a lidar com o estresse e encontrar significado em suas experiências levaram a uma melhor saúde mental e maior qualidade de vida.
Abrace a mudança
Ninguém deve se sentir mal por se sentir deprimido, disse Southwick. O sofrimento extremo é um pré-requisito para o crescimento pós-traumático e pode levar meses ou anos para que esse crescimento aconteça. Estresse e enfrentamento costumam ocorrer ao mesmo tempo. Mas uma mudança dramática em sua vida pode levá-lo a reavaliar o que é importante, e isso pode ser bom.
— Vemos isso em pessoas que sobreviveram a luto, desastres naturais, acidentes automobilísticos, condições médicas e entre veteranos de guerra e pessoas que trabalham na área médica — afirmou. — Eles podem se pegar pensando: eu sou mais vulnerável do que pensava, mas sou mais forte do que jamais imaginei.