Sabe aquela dor incômoda nas costas que surge após uma queda, lesão ou desgaste natural do corpo? Elas podem comprometer o bom funcionamento da coluna. E, nesses casos, a quiropraxia é uma alternativa de tratamento que atua, entre outros fatores, no alívio ou suspensão completa da dor.
Essa é uma área específica da saúde dedicada ao diagnóstico, tratamento e prevenção de problemas do aparelho locomotor (sistema neuromusculoesquelético), que envolvem ossos, ligamentos, tendões, nervos, articulações e músculos, além de outras estruturas, responsáveis pelo movimento do corpo.
“Nós tratamos a biomecânica da coluna e a relação que ela tem com o sistema nervoso”, explica Roberto Bleier Filho, presidente da ABQ (Associação Brasileira de Quiropraxia).
As alterações que ocorrem no corpo causadas por dores ou algumas doenças físicas são chamadas pelos quiropraxistas de “complexo de subluxação”, um desajuste que pode afetar o funcionamento ideal da coluna.
Juliana Piva, presidente da Federação Latino Americana de Quiropraxia, esclarece que o quiropraxista tem a função de detectar os complexos de subluxação vertebral e corrigi-los, através de técnicas manuais, ajustes articulares, orientações posturais e programas de exercícios específicos.
“O ajuste articular é um movimento rápido e preciso, normalmente acompanhado por um estalido, realizado na articulação que está causando a dor. Após o ajustamento, observa-se diminuição da dor, relaxamento muscular e aumento da mobilidade articular”, descreve Piva.
Como é feito o tratamento? Após a primeira avaliação, é definido um tratamento com sessões de acordo com a necessidade individual. Isso é feito pelo quiropraxista através de técnicas manuais e instrumentos, como o activator methods, aparelho semelhante a um pequeno revólver, usado para dar impulso na vértebra.
“Esse instrumento é muito usado para bebês e idosos, porque é possível controlar no ativador a força do impulso que você quer para movimentar aquela vértebra específica”, diz o presidente da ABQ.
Quais objetivos do tratamento?
Diminuir os riscos de problemas na coluna (tratamento preventivo);
Melhorar a postura, o sono e o foco; Diminuir a dor;
Aumentar e restaurar a mobilidade articular;
Melhorar a flexibilidade;
Relaxamento muscular;
Proporcionar mais qualidade de vida (independentemente de ter dor ou não).
“Não tem tantos estudos que comprovem todos os benefícios, mas nós vemos isso na prática”, diz o presidente da ABQ.
Quiropraxista precisa ser formado?
Sim. Embora, ainda não seja tão popular no Brasil como nos Estados Unidos, a quiropraxia é uma profissão independente de nível superior (sim, existem três faculdades no país que possuem o curso de bacharel), reconhecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo MEC (Ministério da Educação).
O tratamento alternativo é disponibilizado pelo SUS (Sistema Único de Saúde) desde 2017.
Qual é o tempo de duração da sessão?
O tempo varia de acordo com cada clínica, mas, em geral, o atendimento gira em torno de 30 minutos, com exceção da primeira consulta, em que o especialista faz uma avaliação completa e, por isso, demora mais.
“Após o tratamento, recomendamos visitas periódicas para que o paciente mantenha o nível de saúde elevado. Essas visitas são recomendadas, em média, a cada 30 dias”, diz Diego de Toledo, quiropraxista e diretor da clínica Kumara Chiropractic Health Life.
Após quanto tempo é possível obter resultados?
Depende do corpo e do problema a ser tratado, mas, normalmente, após a primeira sessão o paciente já sente a melhora da dor.
“A quiropraxia é uma abordagem extremamente natural e a resposta é do corpo do adepto. Se o mesmo deixar atingir um nível de desgaste muito grande, a matéria não será mais capaz de responder”, alerta Toledo.
Para quem ela é indicada?
“A quiropraxia é indicada para todas as idades, desde recém-nascidos até a terceira idade”, diz a presidente da Federação Latino Americana de Quiropraxia.
O presidente da ABQ ressalta que a quiropraxia traz diversos benefícios para os idosos, por exemplo. “A gente não regride o processo degenerativo da coluna do idoso, mas podemos melhorar o movimento, a respiração, a postura e a qualidade de vida”, esclarece o especialista.
Para Robert Meves, ortopedista, professor de cirurgia da coluna vertebral da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, antes de ir a um quiropraxista é importante que o paciente procure uma orientação médica, já que ele não consegue se autodiagnosticar e pode se tratar de um problema mais grave do que aparenta.
“Busque preferencialmente os que são membros da SBOT (Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia), SBC (Sociedade Brasileira de Coluna), SBN (Sociedade Brasileira de Neurocirurgia), SBC (Sociedade Brasileira de Coluna) e SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia)”, aconselha o ortopedista, que explica o motivo da ressalva: “Já vi casos de a pessoa ficar tetraplégica com quiropraxia, porque ela já tinha um problema, não sabia, e acabou agravando o quadro com a manipulação”, alerta.
Contudo, vale dizer que a quiropraxia é uma profissão independente. Os quiropraxistas afirmam estar seguros para diagnosticar pacientes e, se necessário, encaminhá-los para outros especialistas. O tema, porém, ainda gera controvérsia entre as classes.
Há contraindicação?
“Existem poucas contraindicações ao tratamento quiroprático, porém, um quiropraxista é capaz de identificá-las e apontar as melhores estratégias de tratamento, sendo com quiropraxia ou não”, afirma a presidente da Federação Latino Americana de Quiropraxia.
Veja alguns exemplos de casos em que as sessões não são indicadas:
Aneurisma;
Trombose;
Hipertensão não controlada;
AVC e insuficiência vertebrobasilar;
Trauma recente com suspeita de fratura óssea;
Descolamento de placenta (gestante);
Crise em pessoas com doenças autoimunes (nesse caso é necessário aguardar a crise passar);
Osteoporose acentuada (em caso de osteoporose leve é possível utilizar a técnica instrumental);
Estar em tratamento para câncer;
Alguns tipos de tumores malignos.
Há riscos para o paciente?
Sim, há riscos como em qualquer outro tratamento alternativo, medicamentoso ou cirúrgico. A quiropraxia, especialmente quando não manipulada por um profissional qualificado, pode machucar e até agravar quadros já existentes.
“Na história de 126 anos da quiropraxia, os efeitos adversos relacionados são mínimos. E, ao contrário do que se pensa, a quiropraxia não é massagem, estalar ou fazer movimentos bruscos, é muito mais do que isso”, defende o presidente da ABQ.
O que diz a ciência?
De acordo com o professor da Santa Casa de São Paulo, há evidências científicas de uma moderada melhora em pacientes que optaram pela terapia alternativa. Em 2015, após investigar 11 artigos, pesquisadores concluíram em um artigo que houve melhora no quadro dos pacientes que tinham dor no pescoço e que sofreram lesões esportivas, após sessões de quiropraxia. Por outro lado, não houve evidências conclusivas para quem sofria de algumas patologias como asma, cólica infantil, problemas gastrointestinais, fibromialgia e dores nas costas.
Pouco depois, em 2017, especialistas avaliaram 15 ensaios clínicos randomizados, que incluíram mais de 1.700 pacientes. Ao final do trabalho, eles concluíram que a manipulação da coluna vertebral causou uma leve melhora na dor em alguns casos, mas em outros, não. Além disso, a revisão destacou que muitas pesquisas apresentavam limitações. O resultado foi publicado na revista científica Jama Network.
Outro trabalho, esse publicado em 2018, mostrou que a quiropraxia, quando adicionada ao tratamento médico convencional, resulta na melhora da dor na coluna lombar em curto prazo, se comparado com o tratamento médico convencional sozinho.
Em geral, os resultados apontam que mais estudos são necessários para conclusões definitivas. O ideal seria que pesquisas futuras investigassem os efeitos de longo prazo do tratamento quiroprático.
CRÉDITOS: Bruna Alves
FONTE: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2021/12/07/entenda-a-quiropraxia-tratamento-alternativo-que-ajuda-a-diminuir-a-dor.htm