Como usar as emoções negativas a nosso favor?

Tristeza, medo, raiva, nojo. O lado ruim das emoções negativas é o que primeiro vem à mente quando se pensa nesses sentimentos e sensações. Mas, como tudo na vida, até essas emoções possuem um lado bom. Partindo dessa premissa, o psiquiatra e colunista do Estado Daniel Martins de Barros pesquisou como a ciência pode nos ensinar a usar o que há de positivo nesses sentimentos e como isso pode estar a nosso favor. Leia abaixo a entrevista que Barros concedeu ao Estado  sobre o seu livro:

O título do livro é O Lado Bom do Lado Ruim. De onde veio a ideia dessa abordagem?

A inspiração foi um pouco científica, um pouco temperamental. Científica porque eu pensava que, se as emoções negativas foram mantidas na nossa programação mental, é porque têm função – elas deveriam ter um lado bom, uma utilidade. Mas tem a ver com minha personalidade, que é ser “do contra”. Acho que ajuda a explicar porque o desejo de ir contra a maré de incensar as emoções positivas e demonizar as negativas.

E o que há de positivo em sentir raiva?

A raiva é uma emoção que nos impele à ação, para corrigir um erro: algo que consideramos injusto, indevido. Ela é o combustível da indignação, que luta por mudanças. Claro que pode também ser equivocada como quando temos raiva no trânsito ou com questões bobas do dia a dia. Mas até aí ela é útil, porque nos mostra que esperamos ter direitos demais, ou que as pessoas sigam nossas regras, e quando não o fazem temos raiva. Ela acaba sendo um alerta contra exageros nesse sentido.

Você também diz que a ansiedade tem um lado positivo. Qual?

O alarme que mais sinaliza perigo para nós é a ansiedade. Por mais que ela hoje em dia esteja exagerada para muita gente, no fundo ela nos traz uma informação essencial: isso pode ser perigoso, cuidado ao ir por aí, preste atenção. Tudo isso a ansiedade nos traz. E mais: a descarga de adrenalina que ela promove pode ser usada a nosso favor se conseguirmos extrair disso energia para lidar com a tal ameaça.

O estresse é outro ponto que você aborda no livro e que é algo rotineiro na vida das pessoas atualmente. Ele pode ser positivo? Como administrá-lo?

O estresse é fundamental para nosso dia a dia. Sem ele, fica impossível adaptar-se às mudanças, preparar-se para desafios, encarar determinadas batalhas. O grande problema não é o estresse, mas o estresse em excesso, seja em intensidade ou duração. O manejo do estresse passa por identificar exatamente quais são as suas fontes, que situações estão associadas a ele. A partir daí, evitar algumas que sejam evitáveis, mudar o enfoque diante daquelas que são inevitáveis, e aprender a não tentar resolver esses problemas ruminando-os mentalmente. Isso só serve para aumentar o estresse.

Muitos sentimentos ruins, quando persistentes, podem indicar um problema maior, como uma depressão, por exemplo. Qual o limite entre uma sensação ruim que um sentimento negativo causa e algo que pode te levar a ficar doente?

O grande sinal de alerta é a perda de controle – a pessoa não consegue reagir diante de uma tristeza, uma ansiedade ou raiva que lhe pareçam exageradas, por exemplo, e começa a ter prejuízos por conta disso. Fica difícil trabalhar, os relacionamentos se abalam, etc. Na dúvida, é sempre melhor procurar um profissional.

Você diz também que os sentimentos bons podem ter um lado ruim. Como?

Tudo tem mais de um lado, e apesar de toda a publicidade em volta das emoções positivas, elas têm um lado sombrio. A alegria, por exemplo, nos faz inconsequentes. Quantas vezes já não vimos prejuízos por causa da euforia do mercado, por exemplo. Além disso, com todo esse marketing da felicidade as pessoas começam a achar que a alegria é uma obrigação e se sentem frustradas quando estão apenas neutras.

Você diz também que vivemos numa sociedade em que a alegria é vista quase como uma obrigação…

Impor a alegria é algo sabidamente bastante prejudicial. Trabalhadores que são obrigados a se mostrar sempre de bom humor, por exemplo, têm mais estresse e desgaste profissional do que os outros. Não acho que as redes sociais sejam a causa do problema, encaro-as muito mais como sintomas dessa nossa mania. Não vejo problema em só postarmos fotos felizes, o problema é acreditar numa felicidade perpétua.

 

CRÉDITOS: Paloma Cotes

FONTE: https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/saude/como-usar-as-emocoes-negativas-a-nosso-favor,ff97402e557a26890570816548e86d05no9vt45y.html

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