As descobertas destacam como a meditação da atenção plena pode ser uma abordagem útil para o tratamento dessas condições.
Acredita-se que mais de 300 milhões de pessoas vivam com algum tipo de transtorno de ansiedade, tornando-o o tipo de transtorno mental mais comum no momento. O Brasil é considerado o país mais ansioso do mundo. Os antidepressivos podem ser úteis no tratamento do distúrbio, mas não funcionam para todos os pacientes, além de terem indesejados efeitos colaterais. A boa notícia é que um novo estudo, publicado na revista científica JAMA Psychiatry, revelou que um tipo de meditação pode ser tão eficaz quanto esse tipo de medicamento no controle da ansiedade.
Pesquisadores da Universidade Georgetown, em Washington (EUA, compararam o efeito anti-ansiedade de técnicas de redução do estresse baseado em mindfulness (MBSR, na sigla em inglês) com o uso de escitalopram. A primeira intervenção é um tipo de meditação que atua na atenção plena, com foco no presente. Já o segundo é um medicamento da classe dos inibidores seletivos da recaptação da serotonina (ISRS), considerado um antidepressivo padrão-ouro.
Durante oito semanas, os voluntários no programa de mindfulness tinham aulas presenciais de duas horas e meia uma vez por semana, com um retiro de um dia durante a quinta ou sexta semana. Além disso, houve 45 minutos de exercícios diários em casa.
No total, 208 pacientes completaram o tratamento prescrito pelos pesquisadores. Pesquisas de acompanhamento foram realizadas até 24 semanas após o início do tratamento, usando uma avaliação chamada escala de impressão clínica global de gravidade (CGI-S), medida em uma escala de 1 a 7 (sendo 7 ansiedade grave)
Os resultados mostraram que aqueles que praticaram a atenção plena viram suas pontuações de ansiedade caírem em média 1,35 pontos, enquanto aqueles em escitalopram viram suas pontuações caírem em média 1,43 pontos. Em termos de significância estatística, ambas as intervenções estão no mesmo nível.
Trabalhos anteriores já mostraram que programas de mindfulness ajudar a reduzir a ansiedade. Entretanto, o novo estudo é o primeiro a comparar a eficácia da prática com um medicamento antidepressivo.
“Nosso estudo fornece evidências para médicos, seguradoras e sistemas de saúde recomendarem, incluírem e fornecerem reembolso para redução de estresse baseada em mindfulness como um tratamento eficaz para transtornos de ansiedade”, disse a psiquiatra Elizabeth Hoge.
De acordo com os pesquisadores, uma grande vantagem da meditação da atenção plena é que ela não tem os desconfortáveis efeitos colaterais do medicamento e que as sessões não precisam ser realizadas em um consultório, por exemplo. Por outro lado, Hoge ressalta que esse tipo de tratamento requer mais compromisso e tempo do que tomar medicamentos.
“É importante observar que, embora a meditação da atenção plena funcione, nem todos estão dispostos a investir tempo e esforço para concluir com sucesso todas as sessões necessárias e praticar regularmente em casa, o que aumenta o efeito”, diz a pesquisadora.
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